EXTRA – România Mondiala: Nationala na Copa em números

O Craiovano trouxe fichas técnicas, vídeos, fotos, listas de convocação, levantamento dos clubes dos jogadores, tudo sobre as sete participações da Romênia em Copas do Mundo desde maio. Um grande arquivo da seleção romena de futebol. E como uma “faixa bônus”, você pode conferir agora diversas estatísticas curiosidades da Nationala em números. Sobre artilheiros, técnicos, clubes, partidas disputadas, uma síntese de tudo que foi exposto … Continuar lendo EXTRA – România Mondiala: Nationala na Copa em números

România Mondiala: 1998 e o último jogo da Romênia em Copas do Mundo

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A Romênia loira, antes do jogo contra a Tunísia. Em pé: Stelea, Dulca, Marinescu, Dobos, Ciobotariu e Galca. Agachados: Lacatus, Petrescu, Munteanu, Hagi e Dumitrescu

Após o histórico 6º lugar conquistado na Copa do Mundo de 1994, o mundo passava a ver a Romênia como uma equipe realmente forte. Gheorghe Hagi, Bogdan Stelea, Ilie Dumitrescu e Gheorghe Popescu já disputavam a sua terceira Copa. O técnico de 1994, Anghel Iordanescu, estava mantido. E por causa do desempenho histórico nos Estados Unidos, a Nationala se tornou cabeça-de-chave nas eliminatórias para 1998, já que o critério usado era o ranking da FIFA de Novembro de 1995.

E a Romênia passeou em seu caminho rumo à sua 7ª participação em Copas do Mundo. A seleção tricolor caiu no Grupo F, com Irlanda, Lituânia, Macedônia, Islândia e Liechtenstein. De dez partidas, foram conquistados nove vitórias e um empate, que foi na última partida, contra os irlandeses. Foram 37 gols marcados (média de 3,7 por partida) e quatro sofridos, a equipe teve o melhor ataque das eliminatórias europeias, proporcionando muitas goleadas. Entre elas, um 8×0 sobre Liechtenstein em Bucareste, com direito a quatro gols de Popescu, que é zagueiro! E em Liechtenstein, 8×1 para a Nationala. Aliás, Popescu merece muito destaque, já que apesar de sua posição defensiva, marcou também um hat-trick na vitória sobre a Macedônia por 3×0. Mesmo sem ter uma grande seleção que a tenha acompanhado no grupo das eliminatórias, a Romênia chegava na Copa de 1998 prometendo ótimos resultados.

Jogos da Romênia nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1998

Romênia 3×0 Lituânia – 31/08/1996
Islândia 0x4 Romênia – 09/10/1996
Macedônia 0x3 Romênia – 14/12/1996
Romênia 8×0 Liechtenstein – 29/03/1997
Lituânia 0x1 Romênia – 02/04/1997
Romênia 1×0 Irlanda  – 30/04/1997
Romênia 4×2 Macedônia – 20/08/1997
Liechtenstein 1×8 Romênia – 06/09/1997
Romênia 4×0 Islândia – 10/09/1997
Irlanda 1×1 Romênia – 11/10/1997

Na França

Adrian Ilie e Freddy Rincón disputam a bola: o camisa 11 era um dos principais jogadores da Nationala (foto: Getty Images)
Adrian Ilie e Freddy Rincón disputam a bola: o camisa 11 era um dos principais jogadores da Nationala (foto: Getty Images)

A Copa do Mundo de 1998 foi a primeira que permitia três substituições na equipe durante a partida, e também foi a primeira com 32 seleções, divididas em 8 grupos. Então, diferente de 1994, não haveria terceiros lugares passando para as oitavas de final. Apenas líder e vice-líder seguiriam na competição. Após ter chegado às oitavas de 90 e às quartas de 94, a Romênia era cabeça-de-chave em 98, junto com Argentina, Brasil, França, Alemanha, Itália, Espanha e Holanda. E caiu no Grupo G, com Inglaterra, Colômbia e Tunísia.

A estreia romena foi a mesma estreia de 1994: Romênia x Colômbia. Mas foi uma partida muito mais difícil do que aquela que resultou em 3×1 para a Nationala no Rose Bowl, em Pasadena. No Stade de Gerland, em Lyon, o placar foi aberto aos 45 minutos do primeiro tempo. Após bela jogada pela esquerda, Hagi tocou de calcanhar para Adrian Ilie. A bola desviou na zaga, mas seguiu com o atacante. Na sequência, Ilie deu um corte em Mauricio Serna e encobriu Mondragón, que fez uma grande atuação. Um golaço do craque do Valencia, e mais uma vez, a Romênia vencia a Colômbia na estreia.

Marinescu tenta parar a então promessa Michael Owen (foto: Russell Cheyne/Telegraph)
Marinescu tenta parar a então promessa Michael Owen (foto: Russell Cheyne/Telegraph)

Aquela Copa também marcava o retorno da Romênia à França. Em 1938, a Nationala havia sido eliminada num vexame em duas partidas contra Cuba, no Stade Municipal de Toulouse. Naquele 9 de junho de 1938, naquela derrota por 2×1, ainda tinha o nome Stade Chapou. 60 anos depois, em 22 de junho de 1998, uma vitória romena em Toulouse classificaria o país pela terceira vez consecutiva às oitavas-de-final da Copa do Mundo.

O adversário era a forte Inglaterra, de Seaman, Campbell, Neville, Sheringham, Shearer, Scholes e das promessas David Beckham e Michael Owen. Mas a Romênia tinha Hagi e Moldovan. Aos dois minutos do segundo tempo, um arremesso lateral para a Romênia foi cobrado perto da quina da grande área. Hagi, aos 33 anos, mostrou que ainda dava um caldo. A bola quicou na frente do camisa dez, que fez um passe para o centroavante Viorel Moldovan. Adams não alcançou, e o camisa 9 dominou de peito e mandou a bomba quase da marca do pênalti, sem chances para Seaman.

A reação inglesa chegou só aos 34 do segundo tempo. Beckham fez belo lançamento para Shearer na linha de fundo. O atacante alcançou e cruzou para a área. Scholes tocou na bola sem dominá-la e o jovem Owen, de 19 anos, veio de trás para fuzilar. O jogo estava muito próximo de terminar empatado, aos 45, Dorinel Munteanu lançou o lateral-direito Dan Petrescu com um lindo passe do meio-campo. Pressionado por Graeme La Seux, ele ainda conseguiu tocar por baixo de Seaman, quase sem ângulo, e desempatar a partida. De forma antecipada, a Romênia estava nas oitavas-de-final da Copa do Mundo de 1998.

No Super Nintendo, a Romênia já vinha toda loira (foto: reprodução)
No Super Nintendo, a Romênia já vinha toda loira (foto: reprodução)

Em Saint-Denis (localização real do Stade de France, assim como a Arena Pernambuco fica na cidade-sede de Recife em 2014, mas no município de São Lourenço da Mata), na terceira rodada, contra a Tunísia, quase 80 mil pessoas foram ao Stade de France. O jogo já não valia muito, já que a Romênia estava classificada e a Tunísia eliminada. A surpresa ficou por conta do elenco da Nationala quando entrou em campo. Todos os jogadores que tinham cabelo estavam loiros. Uma espécie de comemoração pela classificação antecipada, que marcou aquela Copa. todos de cabelo descolorido. Aliás, o jogo “World Cup France 1998” (hack de International Superstar Soccer Deluxe), de Super Nintendo, pode ter se espelhado nisso para ter todos os jogadores da Romênia loiros.

Esperava-se uma vitória fácil, mas quem saiu na frente foi a Tunísia. Aos 10 minutos de jogo, Adel Sellimi sofreu pênalti do zagueiro Cristian Dulca. Skander Souayah jogou no canto esquerdo de Stelea, que chegou perto, mas não evitou o gol. E a Tunísia pressionou e causou perigo durante todo o primeiro tempo.

Na segunda etapa, uma cena curiosa: Ciobotariu deu uma entrada forte em Slimane, e com pressa de voltar ao jogo para buscar o empate, o goleiro romeno Bogdan Stelea carregou o tunisiano nas costas para fora do campo para que pudesse ser atendido.

A Romênia finalmente acordou na metade da segunda etapa, e começou a pressionar a equipe africana. Aos 27 minutos, Adrian Ilie foi lançado em profundidade dentro da grande área. O goleiro El Ouaer saiu desajeitado, Ilie cruzou, a zaga ainda tentou afastar, e sem goleiro, Moldovan, que havia acabado de entrar no lugar de Dumitrescu, empatou a partida. A Romênia se classificava em 1º lugar do grupo, como em 1994. Pela frente, viria a Croácia.

Grupo G J V E D GP GC SG Pts
 Romênia 3 2 1 0 4 2 +2 7
 Inglaterra 3 2 0 1 5 2 +3 6
 Colômbia 3 1 0 2 1 3 −2 3
 Tunísia 3 0 1 2 1 4 −3 1

A Croácia estava no grupo H, com Argentina, Jamaica e Japão. Venceu os dois jogos mais fáceis, contra os jamaicanos por 3×1 e contra os japoneses por 1×0. Na última rodada, foi derrotada pelos argentinos também pelo placar mínimo, e ficou com a segunda colocação do grupo. Era uma seleção estreante, mas muito boa, que seria consolidada como a sensação da Copa, o papel que Romênia e Bulgária haviam ocupado quatro anos antes.

Hagi não pôde evitar a eliminação precoce para a Croácia (foto: Mediafax)
Hagi não pôde evitar a eliminação precoce para a Croácia (foto: Mediafax)

A Nationala entrou com um não-usual 3-5-2 e  começou sendo totalmente dominada pelos adversários no Parc Lescure, em Bordeaux. O ataque liderado pelo artilheiro Davor Suker causava muito perigo na defesa romena, e o goleiro Bogdan Stelea fazia defesas espetaculares para evitar que os croatas abrissem o placar. Mas aos 47 minutos do primeiro tempo, Gabi Popescu fez pênalti em Aljosa Asanovic, e o polêmico árbitro argentino Javier Castrilli ( aquele conhecidíssimo dos brasileiros por prejudicar a Portuguesa na semifinal do Campeonato Paulista daquele mesmo ano contra o Corinthians) apitou. Suker marcou chutando no canto esquerdo de Stelea, mas Castrilli mandou voltar porque houve invasão croata na meia-lua antes da cobrança. Não foi problema para aquele Davor Suker de 1998, que cobrou no mesmo canto e abriu o placar. Desta vez, Stelea acertou o canto e passou perto de defender. E o placar não foi alterado no segundo tempo. A Romênia não conseguiu esboçar uma reação, e se não fosse Stelea, a Nationala se despediria da Copa de 1998 com uma goleada humilhante. Diferente de 1994, aquela Copa acabou com um gostinho de “quero mais”, pelo time que era e pelo desempenho das eliminatórias.

Considerado o maior jogador romeno de todos os tempos, Gheorghe Hagi não terminou aquela que é até hoje a última partida da Romênia em Copas do Mundo. Acabou substituído aos 11 do segundo tempo pelo atacante Gheorghe Craioveanu, jogador do Universitatea Craiova entre 1991 e 1995 que estava no Real Sociedad desde então. Hoje, Craioveanu é diretor de imagem do CS U Craiova. Autor de 3 gols nos Estados Unidos quatro anos antes, Hagi ficou sem balançar as redes em 1998, apesar das boas atuações.

Diferente de 1930, 1934, 1938, 1970, 1990 e 1994, a Romênia tinha agora a maioria de seu elenco atuando fora do futebol nacional. Apenas seis jogadores atuavam no país, e nenhum deles estava no Dinamo, que tinha maioria em 1994. O Rapid, considerado o melhor clube romeno naquela época, tinha apenas dois jogadores. O National, a “quarta força” de Bucareste, tinha pela primeira vez jogadores disputando Copa do Mundo. Não havia nenhum de um clube do interior, fora da capital. Vários jogadores tinham alguma relação com Craiova, como Gheorghe “Gica” Popescu, Craioveanu, Prunea, Stinga, e Gabi Popescu, que já haviam atuado no Universitatea Craiova antes da Copa.

P. Nome Idade Clube
1 G Dumitru Stângaciu 33 anos  Kocaelispor-TUR
12 G Bogdan Stelea 30 anos  Salamanca-ESP
22 G Florin Prunea 29 anos  Dinamo Bucareste
20 LE Tibor Selymes 28 anos  Anderlecht-BEL
2 LD Dan Petrescu 30 anos  Chelsea-ING
3 Z Cristian Dulca 25 anos  Rapid Bucareste
4 Z Anton Dobos 32 anos  AEK Atenas-GRE
6 Z Gheorghe Popescu 30 anos  Galatasaray-TUR
13 Z Liviu Ciobotariu 27 anos  National Bucareste
18 Z Iulian Filipescu 24 anos  Galatasaray-TUR
5 V Constantin Galca 26 anos  Espanyol-ESP
8 M Dorinel Munteanu 29 anos  Köln-ALE
10 M Gheorghe Hagi [C] 33 anos  Galatasaray-TUR
15 M Lucian Marinescu 25 anos  Rapid Bucareste
16 M Gabriel Popescu 24 anos  Salamanca-ESP
19 M Ovidiu Stinga 25 anos  PSV Eindhoven-HOL
7 A Marius Lacatus 34 anos  Steaua Bucareste
9 A Viorel Moldovan 25 anos  Coventry City-ING
11 A Adrian Ilie 24 anos  Valencia-ESP
14 A Radu Niculescu 23 anos  National Bucareste
17 A Ilie Dumitrescu 29 anos  Atlante-MEX
21 A Gheorghe Craioveanu 30 anos  Real Sociedad-ESP

Técnico: Anghel Iordanescu

Quantidade de jogadores por cidade/clube:
Bucareste: 6
Rapid: 2
National: 2
Steaua: 1
Dinamo: 1

16 jogadores do exterior: 5 da Espanha, 4 da Turquia, 2 da Inglaterra, 1 da Holanda, 1 da Bélgica, 1 do México, 1 da Alemanha e 1 da Grécia.

Confira as fichas técnicas das partidas da Romênia na Copa do Mundo de 1994:
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România Mondiala: 1994, o auge e o duelo histórico com a Argentina

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Antes do jogo da classificação contra os EUA. Em pé: Prunea, Popescu, Prodan, Petrescu, Belodedici e Raducioiu. | Agachados: Hagi, Munteanu, Lupescu, Selymes e Dumitrescu

A Copa do Mundo de 1994 foi uma das mais marcantes da história, e muito disto se deve ao desempenho da seleção romena na 85competição. Foi a primeira vez em que a equipe participava de duas Copas do Mundo consecutivas desde a sequência 1930-1934, e desta vez com o melhor time da história do país. Hagi, Raducioiu, Dumitrescu, Popescu e Belodedici são nomes com muitas chances de serem lembrados por quem ama futebol e acompanhou aquela Copa. Foi também o primeiro mundial com o uniforme mais conhecido da Romênia, todo amarelo com detalhes em azul e vermelho (diferente dos anos anteriores, com camisa amarela, bermuda azul e meiões vermelhos). E diferente da Copa de 1990, quando a classificação foi decidida no último jogo das eliminatórias contra a Dinamarca, para a edição de 1994 o caminho rumo aos Estados Unidos foi muito mais tranquilo.
Eram 39 seleções europeias divididas em seis grupos, disputando doze vagas. Ou seja, o primeiro e o segundo colocado de cada grupo se classificariam para a Copa do Mundo, sem mistério ou repescagem. A Nationala caiu no Grupo 4, com Bélgica, Tchecoslováquia, País de Gales, Chipre e Ilhas Faroe. Foram 10 jogos, 15 pontos, 7 vitórias (vitórias valiam dois pontos), 1 empate, 2 derrotas, 29 gols pró e 12 contra. A primeira posição no grupo foi assegurada no saldo de gols. A Bélgica acumulou 15 pontos também, mas marcou 16 gols e sofreu 5.

Vale lembrar a situação peculiar pela qual passava a Tchecoslováquia, que ficou em 3º lugar com 13 pontos. Em 1993, com as eliminatórias em andamento, o país se desmembrou em República Tcheca e Eslováquia. Mas a seleção continuou existindo e representando eslovacos e tchecos para que as eliminatórias pudessem ser encerradas. Algo semelhante com o que aconteceu com Sérvia e Montenegro em 2006

Jogos da Romênia nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1994

Romênia 7×0 Ilhas Faroe – 06/05/1992
Romênia 5×1 País de Gales – 20/05/1992
Bélgica 1×0 Romênia – 14/10/1992
Romênia 1×1 Tchecoslováquia – 14/11/1992
Chipre 1×4 Romênia – 20/11/1992
Romênia 2×1 Chipre – 14/04/1993
Tchecoslováquia 5×2 Romênia – 02/06/1993
Ilhas Faroe 0x4 Romênia – 08/09/1993
Romênia 2×1 Bélgica – 13/10/1993
País de Gales 1×2 Romênia – 17/11/1993

Nos Estados Unidos

Raducioiu comemora contra a Colômbia: o atacante foi artilheiro da Nationala com 4 gols (foto: FIFA)
Raducioiu comemora contra a Colômbia: o atacante foi artilheiro da Nationala com 4 gols (foto: FIFA)

Os dois primeiros colocados de cada grupo se classificavam para as oitavas-de-final, junto com os quatro melhores terceiros. O grupo da Romênia era o Grupo A, dos anfitriões, da Suíça e também da Colômbia, que prometia muito para aquela Copa, principalmente após a goleada por 5×0 aplicada na Argentina em pleno Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. Aliás, os colombianos foram os primeiros adversários, há exatos 20 anos. Aos 15 minutos, Hagi começava a dar uma pequena amostra do que faria nos Estados Unidos. Com um drible de corpo, se livrou do marcador e partiu do meio de campo rumo à intermediária, e lançou Raducioiu. O atacante dominou, puxou pra perna direita para se livrar de Perea e fuzilou no canto esquerdo de Córdoba.  E tinha mais. Vale lembrar que na época Hagi jogava no Brescia, na segunda divisão italiana.

Aos 34, Petrescu tocou para Hagi na esquerda. Após o domínio, foram necessários cinco passos e um toque na bola. O que se viu depois no Estádio Rose Bowl, em Pasadena, Califórnia, foi mágico. O camisa 10 deu um chute de efeito com a perna canhota, após ver Córdoba adiantado. Golaço. Por cobertura. Quem de fato acompanhou a Copa do Mundo de 1994 não esqueceria mais. A Romênia não era mais terra de Drácula, de vampiros, não seria lembrada apenas pela Transilvânia por estas pessoas. A Romênia era agora a terra de Gheorghe Hagi.

Nove minutos depois, cobrança de escanteio colombiana e o atacante Adolfo Valencia cabeceou no alto para diminuir. E mesmo após uma pressão da Colômbia, o dia era da Romênia. Hagi cobrou falta rápido no finalzinho do jogo pela esquerda. Raducioiu se livrou do goleiro Córdoba e sacramentou o primeiro passo rumo a uma campanha heroica.


Os gols da partida com direito a áudio da TVR1, em romeno

Quatro dias depois, um baque na equipe do técnico Anghel Iordanescu. O adversário era a Suíça de Roy Hodgson, atual técnico da Inglaterra. No Estádio de Detroit, Michigan, quem abriu o placar foi o meia Alain Sutter, fuzilando no canto esquerdo de Stelea após cruzamento pela direita e o toque de Chapuisat fazendo o pivô. Hagi empatou aos 35, arriscando um belo chute de fora da área. Mas foi só. No segundo tempo, chocolate suíço. Aos 7 minutos, na cobrança de escanteio, Stelea saiu de soco, a zaga não afastou, e um bate e rebate dentro da área resultou no gol do atacante Chapuisat, recebendo livre para desempatar. Aos 20, Sforza partiu livre de marcação pelo meio, deu uma meia-lua em Prodan e na saída do goleiro tocou para Knut, livre, que ampliou para 3×1. E aos 27, Bregy cobrou falta alçando a bola na grande área. Um desvio de Knut matou Stelea e fechou o placar. Um erro de percurso, 4×1 para a Suíça.

Na última rodada, a Nationala enfrentou os anfitriões estadunidenses, em 26 de junho de 1994, no Rose Bowl. Como a Colômbia já eliminada venceu a Suíça, bastou o único gol de Petrescu aos 18 minutos do primeiro tempo. Hagi começou a jogada pela esquerda, e numa linda troca de passes, parou em Petrescu, que chutou direto pro gol quando o goleiro Meola contava com o cruzamento. A vitória assegurou a classificação romena para as oitavas-de-final, pela segunda vez consecutiva. E de quebra, em primeiro lugar do Grupo A. O próximo adversário era ninguém menos que a Argentina, de Maradona. De novo.

Grupo A J V E D GP GC SG Pts
 Romênia 3 2 0 1 5 5 0 6
  Suíça 3 1 1 1 5 4 +1 4
 EUA 3 1 1 1 3 3 0 4
 Colômbia 3 1 0 2 4 5 −1 3
Iordanescu é abraçado pelos jogadores após a épica vitória sobre a Argentina (foto: Getty Images)
O técnico Iordanescu é ovacionado pelos jogadores após a épica vitória sobre a Argentina (foto: Getty Images)

A Argentina estava no mesmo grupo da Romênia na Copa de 1990. Um empate em 1×1 garantiu a classificação das duas para as oitavas. Os romenos haviam caído para a Irlanda nos pênaltis. Os argentinos chegaram à final e perderam para a Alemanha. Quatro anos depois, o confronto era mata-mata, no Rose Bowl, em 3 de julho. Maradona não estava mais na equipe, havia sido pego no anti-doping. Mas a Argentina ainda era muito forte.

O placar foi aberto rapidamente, aos 11 minutos do primeiro tempo. E com gol romeno. Numa falta quase na quina da área, o atacante Ilie Dumitrescu fez um golaço cobrando direto, semelhante ao gol de Hagi contra a Colômbia e que Ronaldinho Gaúcho faria oito anos depois contra a Inglaterra.

Mas seis minutos depois, pênalti para a Argentina. Ortega passou para Batistuta, que dentro da área foi derrubado por Prodan. Ele mesmo cobrou, Prunea para a esquerda, bola para a direita, 1×1 e eram apenas 16 minutos de jogo. A Romênia, guerreira, tinha a dupla Hagi e Dumitrescu numa tarde inspirada. Logo após o empate argentino, Hagi fez boa tabela pela direita e na quina da grande área, achou uma brecha para lançar o camisa 11 de cara pro gol, só para tirar de Islas. Pro primeiro tempo, foi “só”

Era uma partida que pedia um gol de Hagi, para a sua consagração, para matar o jogo. A chance foi aproveitada aos 12 minutos da etapa complementar. Contra-ataque fulminante após escanteio argentino. Dumitrescu partiu pra cima da marcação. Viu Selynes correndo solto pela esquerda, preferiu esperar e retribuir Hagi na direita. Só rolou para o Maradona dos Cárpatos encher o pé e fazer o terceiro. Quando a Argentina foi fazer o segundo, já eram passados 29 minutos do 2º tempo. Cáceres mandou a bomba de fora da área, Prunea bateu roupa e Balba completou pro gol. A partida acabou mesmo em 3×2. Já era a melhor campanha romena em uma Copa do Mundo. Dumitrescu, Hagi & cia. ltda. já eram a Generatia de Aur. A Geração de Ouro).

Restavam agora oito países na Copa do Mundo, e a Romênia estava entre eles. Os confrontos eram Romênia x Suécia, Holanda x Brasil, Bulgaria x Alemanha e Itália x Espanha. Em 10 de julho de 1994, 83,5 mil pessoas foram ao Stanford Stadium, em Stanford, região de San Francisco, na Califórnia, para assistir a uma partida que seria definida somente nos pênaltis. E o placar foi aberto na segunda metade da etapa complementar. Schwarz cobrou falta ensaiada, a defesa romena foi ingênua e Tomas Brolin ficou livre para estufar as redes aos 33 minutos. O empate foi heróico, no finalzinho do jogo, aos 43, também na bola parada. A cobrança da falta desviou na barreira e sobrou para Raducioiu completar. Viria a prorrogação. E a virada. Hagi tentou entrar na grande área e foi desarmado, mas a defesa deu bobeira na saída e a bola sobrou na meia-lua para Raducioiu. O camisa 9 não perdoou a falha sueca e chutou forte no canto esquerdo de Ravelli, aos 11 do 1º tempo da prorrogação. E na sequência, Schwarz foi expulso. A Romênia estava agora com um jogador a mais.

Faltavam a cinco minutos para o melhor time da história do futebol romeno chegar às semi-finais da Copa do Mundo e enfrentar o Brasil, que havia vencido a Holanda um dia antes. Mas um levantamento na área e uma falha grotesca de Prunea levaram o jogo para os pênaltis. Kennet Andersson cabeceou, o goleiro catou borboleta e o placar chegava a 2×2. Mas logo depois, Prunea se redimiu. Andersson lançou Dahlin na direita em profundidade. O atacante bateu cruzado, o goleiro romeno fez boa defesa, e no rebote, Henrik Larsson (aquele mesmo, na época tinha 22 anos!), dominou errado, e atrasou o chute. Deu tempo para o camisa 1 chegar e fazer uma defesa salvadora.

Chegava o apito final, e com ele, os pênaltis. Mild iniciou a série sueca, e isolou. A Romênia manteve a vantagem. Hagi e Lupescu marcaram. Andersson, Brolin e Ingesson também. Chegava a vez de Dan Petrescu, que cobrou mal. Ravelli defendeu para empatar a disputa. Nilsson, Dumitrescu e Larsson acertaram suas cobranças. Belodedici não. Já nas cobranças alternadas, Ravelli defendeu e levou a Suécia para a semi-final contra o Brasil. Terminava assim a campanha do melhor time que o futebol romeno já teve. Um time que proporcionou partidas épicas que são lembradas até hoje. A Romênia finalmente tinha, para sempre, o seu lugar demarcado no futebol mundial.


Confira os melhores momentos deste jogo histórico num vídeo sueco

Diferentemente de 1990, quando apenas Rodion Camataru jogava no exterior, agora oito jogadores atuavam fora da Romênia: Selymes, Belodedici, Petrescu, Popescu, Munteanu, Lupescu, Hagi e Raducioiu. O Universitatea Craiova continuou fornecendo jogadores para a seleção romena, ambos reservas: O zagueiro Corneliu Papura e o meia Ovidiu Stinga (que foi técnico do CS Universitatea Craiova até o ínicio deste ano, quando chegou Gavril Balint). No mais, a oligarquia de Bucareste foi afetada pela quantidade de jogadores atuando fota da Romênia. Em 1990, 17 dos 22 jogadores vinham de clubes da capital. Em 1994, foram dez. Houve mais equilíbrio entre Steaua, Dinamo e Rapid. Destaque também para o Petrolul, que continuou com o terceiro goleiro, e o Brasov, com o atacante reserva Marian Ivan.

P. Nome Idade Clube
1 G Florin Prunea 25 anos  Dinamo Bucareste
12 G Bogdan Stelea 26 anos  Rapid Bucareste
22 G Stefan Preda 23 anos  Petrolul Ploiesti
13 LE Tibor Selymes 24 anos  Cercle Brugge-BEL
13 L* Miodrag Belodedici 24 anos  Valencia-ESP
2 LD Dan Petrescu 26 anos  Genoa-ITA
3 Z Daniel Prodan 22 anos  Steaua Bucareste
6 Z Gheorghe Popescu 26 anos  PSV Eindhoven-HOL
14 Z Gheorghe Mihali 28 anos  Dinamo Bucareste
19 Z Corneliu Papura 20 anos  Universitatea Craiova
7 V Dorinel Munteanu 25 anos  Cercle Brugge-BEL
8 V Iulian Chirita 27 anos  Rapid Bucareste
18 V Constantin Gâlca 22 anos  Steaua Bucareste
5 M Ioan Lupescu 25 anos  Bayer Leverkusen-ALE
10 M Gheorghe Hagi [C] 29 anos  Brescia-ITA
15 M Basarab Panduru 23 anos  Steaua Bucareste
20 M Ovidiu Stinga 21 anos  Universitatea Craiova
9 A Florin Raducioiu 24 anos  Milan-ITA
11 A Ilie Dumitrescu 25 anos  Steaua Bucareste
16 A Ion Vladoiu 25 anos  Rapid Bucareste
17 A Viorel Moldovan 21 anos  Dinamo Bucareste
21 A Marian Ivan 25 anos  Brasov

Técnico: Anghel Iordanescu

*Líbero

Quantidade de jogadores por cidade/clube:
Bucareste: 10
Steaua: 4
Dinamo: 3
Rapid: 3
Craiova: 2
Universitatea
Ploiesti: 1
Petrolul
Brasov: 1
FC Brasov
8 jogadores do exterior: 3 da Itália, 2 da Bélgica, 1 da Espanha, 1 da Alemanha e 1 da Holanda.

Confira as fichas técnicas das partidas da Romênia na Copa do Mundo de 1994:
_________________________________________ Continuar lendo “România Mondiala: 1994, o auge e o duelo histórico com a Argentina”

România Mondiala: 1990 e o início da Geração de Ouro

Antes do jogo decisivo contra a Argentina. Em pé: Lung, Popescu, Andone, Sabau, Klein e Hagi.  Agachados: Lacatus, Balint, Rednic, Rotariu e Lupescu (foto: Getty Images
Antes do jogo decisivo contra a Argentina. Em pé: Lung, Popescu, Andone, Sabau, Klein e Hagi.
Agachados: Lacatus, Balint, Rednic, Rotariu e Lupescu (foto: Getty Images)
Milla, aos 38 anos, botava  para correr o futuro capitão do Barcelona, Gheorghe Popescu de 22 anos (foto: FIFA)
Milla, aos 38 anos, botava para correr o futuro capitão do Barcelona, Gheorghe Popescu, de 22 (foto: FIFA)

Depois de 1938, a Romênia esperou 32 anos até poder ver a Nationala mais uma vez em uma Copa do Mundo, e após o Brasil tem eliminado os romenos em 1970, eles só voltariam depois de mais 20 anos. Mas pelo menos, com uma equipe muito mais forte, que já contava com Silviu Lung (pai do atual goleiro do Astra Giurgiu, Silviu Lung Jr.), Gheorghe Popescu, Marius Lacatus, Rodion Camataru, Florin Raducioiu, e claro, Gheorghe Hagi. O país vivia um período conturbado politicamente, economicamente e socialmente. Havia menos de um ano desde a revolução iniciada em Timisoara e a execução do presidente comunista Nicolae Ceausescu e sua  esposa, Elena Petrescu. Apesar das tensões, a Romênia ensaiava boas atuações com uma equipe bastante forte, com jogadores campeões da Champions League pelo Steaua, como Lacatus, e com grandes jogadores da história do Universitatea Craiova, como Camataru e Lung, que levaram a Nationala para sua primeira participação em Eurocopas, em 1984.

Treze vagas eram disputadas na Europa para a Copa do Mundo. A 14ª já era da Itália, o país-sede. A Romênia caiu no equlibrado grupo 1, com Dinamarca, Grécia e Bulgária. Vale lembrar que apenas três grupos continham quatro equipes: o 1, o 2 e o 4. E o pior segundo colocado entre estes três não se classificaria para a Copa do Mundo. A Romênia não precisou disso, quem ficou com o segundo lugar foi a Dinamarca. A Nationala só foi perder na quinta rodada, em 11 de outubro de 1989, e para os dinamarqueses, que acabaram chegando à liderança do grupo com um ponto de diferença. Era obrigatório vencer os líderes em Bucareste para voltar à Copa do Mundo. E a Romênia venceu. Em 15 de novembro de 1989, No Estádio Steaua, a Dinamarca saiu na frente logo aos seis minutos do primeiro tempo, com Flemming Povlsen. Mas aos 25, Gavril Balint (isso mesmo, o técnico do CS Universitatea Craiova) empatou. E aos 38, o meia Ioan Sabau, do Dinamo Bucareste, fez o gol da virada. No segundo tempo, só pra colocar enterrar a Dinamarca de vez, Balint marcou de novo, aos 16 minutos. Depois de 20 anos, a Romênia voltava a uma Copa do Mundo.

Melhores momentos de Romênia 3×1 Dinamarca

Jogos da Romênia nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1990

Bulgária 1×3 Romênia – 19/10/1988
Romênia 3×0 Grécia – 02/11/1988
Grécia 0x0 Romênia – 26/04/1989
Romênia 1×0 Bulgária – 17/05/1989
Dinamarca 3×0 Romênia – 11/10/1989
Romênia 3×1 Bulgária – 15/11/1989

Na Itália

A Romênia esteve no Grupo B da Copa de 1990, junto com Camarões, Argentina e a já enfraquecida União Soviética, contra a qual a Nationala estreou, há exatos 24 anos e dois dias, em 9 de junho de 1990. O atacante do Steaua Bucareste, Marius Lacatus, abriu o placar aos 42 minutos do primeiro tempo. Sabau lançou o camisa 7 na quina da pequena área e o artilheiro fuzilou pro gol. Aos 12 do segundo, o árbitro uruguaio Juan Daniel Cardellino deu uma grande ajuda pra Nationala. Lacatus partiu no mano-a-mano com o meio-campista Bezsonov, e tentou o drible. O soviético ucraniano colocou a mão na bola muito longe da área, mas o juiz marcou pênalti. O próprio Lacatus fez o segundo da Romênia e fechou a conta no Stadio San Nicola, em Bari.

Na segunda rodada, a Romênia enfrentou a surpreendente seleção de Camarões, do veterano Roger Milla, também em Bari, no dia 14.  Após um chutão do campo de defesa camaronês, o zagueiro Ioan Andone perdeu no jogo de corpo para Milla, que finalizou na saída de Lung aos 31 minutos do segundo tempo. Dez minutos depois, Milla marcou mais uma vez em uma bela finalização, após bobeira da zaga tricolor. Só deu tempo para Gavril Balint marcar o gol de honra, um minuto depois.

A última rodada chegou com Camarões como líder, após as vitórias sobre Argentina e Romênia. Os romenos estavam na segunda colocação, os argentinos em terceiro lugar, e os soviéticos na lanterna. Em 18 de junho, no Stadio San Paolo, Nápoles, a “segunda casa” de Diego Maradona, Romênia e Argentina se enfrentaram pela vaga direta rumo às oitavas-de-final. Um jogaço de bola que teve o placar aberto só na bola parada. Após cobrança de escanteio de Maradona, Monzón subiu sozinho aos 18 minutos do segundo tempo cabeceou e abriu o placar para a Argentina, com direito a comemoração escandalosa de Maradona. Era mais um jogo decisivo, assim como o contra a Dinamarca, nas eliminatórias, em que os romenos saíam atrás. A Nationala precisava pelo menos empatar para terminar na segunda posição.

E nem demorou muito. Aos 23, Popescu tocou de letra para Balint, que lançou Lacatus pela direita e se mandou para a grande área. Lacatus cruzou no segundo pau, e o desvio romeno colocou a bola na cabeça de Gavril Balint, que não desperdiçou. 1×1, e a vaga nas oitavas estava garantida com o segundo lugar. Foi a primeira vez que a Romênia passou de fase em uma Copa do Mundo desde 1930. Mas a argentina também se classificou, já que terminou a fase de grupos entre os quatro melhores terceiros colocados.

Nas oitavas-de-final, o adversário foi a estreante Irlanda, que havia passado em segundo lugar do grupo F, que tinha Inglaterra, Holanda e Egito. A partida foi realizada em 25 de junho em Gênova, no Stadio Luigi Ferraris. O árbitro, aliás, era brasileiro. José Roberto Wright apitou o jogo que terminou por zero a zero depois da prorrogação. Foi a primeira disputa de pênaltis da história da Romênia em Copas do Mundo. A segunda viria quatro anos depois, contra a Suécia.

Hagi, Lupu, Rotariu e Lupescu acertaram suas cobranças. Após a quarta cobrança irlandesa , o meia Daniel Timofte, do Dinamo Bucareste, chutou mal e o goleiro Packie Bonner fez a defesa. Na sequência, o zagueiro do Arsenal David O’Leary deslocou Silviu Lung no último pênalti e classificou a Irlanda para as quartas-de-final, nas quais seria eliminada pela anfitriã Itália.

Hagi é conhecido pela Copa de 1994, mas deu trabalho em 1990. A finta em Chris Morris é só amostra (foto: FIFA)
Hagi é conhecido pela Copa de 1994, mas deu trabalho em 1990. A finta em Chris Morris é só amostra (foto: FIFA)

Poucos meses após a Revolução de 1989 e a transição para o capitalismo, a Nationala tinha apenas um jogador que atuava fora da Romênia. A debandada começou principalmente após 1994, mas o bom desempenho em 1990 também despertou o interesse de grandes clubes do oeste europeu. O atacante Rodion Camataru, jogador da geração Craiova Maxima pelo Universitatea Craiova, estava no Charleroi, da Bélgica. No geral, havia agora uma forte oligarquia de Bucareste, não mais com o Rapid, mas sim por Steaua (campeão da Champions League em 1985-86 sobre o Barcelona) e por Dinamo. Apenas quatro jogadores além de Camataru não eram dos dois grandes de Bucareste: Emil Sandoi e Adrian e Gheorghe Popescu, do Universitatea Craiova (Silviu Lung, o capitão da seleção, jogou no Universitatea Craiova de 1974 a 1988, e estava no Steaua desde então); e o terceiro goleiro, Gheorghe Liliac, do Petrolul Ploiesti.

Parêntese: O lateral-esquerdo Michael Klein jogou de 1977 a 1988 pelo tradicional Corvinul Hunedoara, desifiliado em 2004 pela FRF devido a acúmulo de dívidas e extinto desde então. Klein faleceu em decorrência de um ataque cardíaco em 2 de fevereiro de 1993, aos 34 anos, quando jogava pelo pequeno Bayer Uerdingen, da Alemanha. Na época, o clube disputava a Bundesliga. Após sua morte, o estádio do Corvinul foi rebatizado com seu nome, assim como aconteceu com Nicolae Dobrin (Arges Pitesti) e Ion Oblemenco (Universitatea Craiova).

O técnico Emerich Jenei comandava a Nationala desde 1986. Chegou a treinar o Universitatea Craiova em 1996, e se aposentou como treinador no comando da seleção em 2000. Como jogador, teve passagem mais marcante pelo Steaua entre 1957 e 1969, disputando mais de 200 partidas.

Curiosidade: o meia Ioan Lupescu é filho do lateral-direito e zagueiro Nicolae Lupescu, que jogou a Copa de 1970.

Goleiros:
1 – Silviu Lung (Steaua Bucareste), 33 anos
12 – Bogdan Stelea (Dinamo Bucareste), 22 anos
22 – Gheorghe Liliac (Petrolul Ploiesti), 34 anos
Lateral-esquerdo:
3 – Michael Klein (Dinamo Bucareste), 30 anos
Laterais-direitos:
2 – Mircea Rednic (Dinamo Bucareste), 28 anos
13 – Adrian Popescu (Universitatea Craiova), 29 anos
Zagueiros:
4 – Ioan Andone (Dinamo Bucareste), 31 anos
6 – Gheorghe Popescu (Universitatea Craiova), 22 anos
19 – Emil Sandoi (Universitatea Craiova), 25 anos
Volantes:
5 – Iosif Rotariu (Steaua Bucareste), 27 anos
11 – Danut Lupu (Dinamo Bucareste), 23 anos
Meias:
8 – Ioan Sabau (Dinamo Bucareste), 22 anos
10 – Gheorghe Hagi (Steaua Bucareste), 25 anos
15 – Dorin Mateut (Dinamo Bucareste), 24 anos
16 – Daniel Timofte (Dinamo Bucareste), 22 anos
19 – Zsolt Muzsnay (Steaua Bucareste), 24 anos
21 – Ioan Lupescu (Dinamo Bucareste), 21 anos
Atacantes:
7 – Marius Lacatus (Steaua Bucareste), 26 anos
9 – Rodion Camataru (Charleroi-BEL), 31 anos
14 – Florin Raducioiu (Dinamo Bucareste), 20 anos
17 – Ilie Dumitrescu (Steaua Bucareste), 21 anos
18 – Gavril Balint (Steaua Bucareste), 27 anos

Quantidade de jogadores por cidade/clube:
Bucareste: 17
Dinamo: 10
Steaua: 7
Craiova: 3
Universitatea
Ploiesti: 1
Petrolul

Confira as fichas técnicas das partidas da Romênia: Continuar lendo “România Mondiala: 1990 e o início da Geração de Ouro”

România Mondiala: 1970 e o jogo decisivo contra o Brasil

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Da esquerda à direita: Neagu, Everaldo, Pelé, Lupescu e Fontana. A Romênia foi a equipe que mais marcou gols no Brasil na fase de grupos

A Romênia foi ao México em 1970 para fazer a sua quarta participação em Copas do Mundo, 32 anos após a sua última, em 1938. Desta vez, sem zebras como a eliminação para Cuba, sem convocação feita pelo rei como em 1930 e sem W.O nas eliminatórias como 1934. De fato, nas eliminatórias para 1970, a Romênia ficou em primeiro lugar do Grupo 1, que contava com a Grécia, Suíça e Portugal, que havia sido a sensação de 1966 com Eusébio. Havia apenas a vaga para o 1º lugar do grupo.

A estreia nas eliminatórias contra Portugal, em 27 de outubro 1968, foi um susto, uma derrota por 3×0 em Lisboa. Mas seria a único resultado negativo da Romênia na jornada rumo ao Mexico: Depois, vitória de 2×0 contra a Suíça em Bucareste e empate em 2×2 com os gregos em Atenas. No returno, 1×0 na Suíça, e a revanche contra Portugal também por 1×0, numa grande vitória em casa com o gol de Nicolae Dobrin. E, para fechar, novo empate com a Grécia em Bucareste, por 1×1. Oito pontos (já que na época uma vitória valia dois) conquitados em 3 vitórias, 2 empates e uma derrota.

No México

Junto com Brasil, Inglaterra e República Tcheca, a Romênia formava o Grupo 3 da Copa do Mundo de 1970, que teve quatro grupos para 16 seleções: nove da UEFA (Inglaterra, Bélgica, Suécia, Alemanha Ocidental, URSS, Romênia, Itália, Bulgária e Tchecoslováquia), três da Conmebol (Brasil, Uruguai e Peru), duas da Concacaf (El Salvador e México), uma da CAF (Marrocos) e outra da AFC/OFC (Israel). O grupo da Romênia poderia, sem dúvida, ser chamado de grupo da morte. Lá, estavam os dois últimos campeões mundiais de então (Brasil em 1962 e Inglaterra em 1966) e a tradicional Tchecoslováquia, vice-campeã de 1962.

O primeiro adversário da Nationala foi a Inglaterra, classificada automaticamente por ter vencido a Copa anterior, há exatos 44 anos, e dois dias no Estádio Jalisco de Guadalajara, o palco de todas as partidas do Grupo 3. A Romênia não jogou bem, e para impedir os ataques ingleses, apelava para faltas muito violentas. Aos 20 minutos do segundo tempo, a defesa foi finalmente furada. Alan Ball levantou para a grande área, Francis Lee desviou de cabeça, Geoff Hurst dominou e driblou Satmareanu sem dificuldades para então fazer o único gol da partida. Note no vídeo abaixo que a Romênia ainda não jogava toda de amarelo, e sim com bermuda azul e meiões vermelhos, como as seleções da Colômbia e do Equador. (Confira as fichas técnicas da partida ao final do texto).

A chance de recuperação veio na partida contra a Tchecoslováquia, em 6 de junho, mas logo aos cinco minutos do primeiro tempo, a Romênia saiu atrás no placar. Após cruzamento pela direita, Ladislav Petras acertou um bonito cabeceio para marcar. A virada foi feita só no segundo tempo. Aos sete minutos, o meia Radu Nunweiller fez belo passe para Alexandru Neagu, que se livrou da marcação e tocou na saída do goleiro. Aos 31, Neagu recebeu belo passe na entrada da grande área e foi derrubado. O juiz mexicano Diego de Leo marcou pênalti. Dumitrache cobrou no canto direito de Vencel e fez o gol da vitória.

Torres certamente esperava um jogo mais fácil contra a Romênia de Lucescu

O Brasil liderava o grupo ao final da segunda rodada, e Romênia e Inglaterra estavam empatadas com dois pontos, com os romenos em vantagem por terem marcado mais gols. E era justamente o Brasil de Pelé o próximo e último adversário da fase de grupos, quatro dias após a virada sobre os tchecoslovacos. E a Nationala chegou a dar trabalho. Em seis jogos disputados pela seleção brasileira, somente a Romênia e o Peru (nas quartas-de-final) marcaram dois gols.

O placar foi aberto por Pelé, numa bomba na cobrança de falta aos 19 minutos do primeiro tempo. Três minutos depois, jogada rápida pela esquerda de Paulo Cézar Caju, que cruzou para Jairzinho completar. 2×0. Mas quando se achava que o jogo poderia acabar em goleada, Dumitrache recebeu belo passe na entrada da área, e trombando com a zaga brasileira, ainda conseguiu finalizar na saída de Félix para diminuir a desvantagem aos 34 minutos.

No segundo tempo, Jairzinho cruzou da ponta direita no primeiro pau. Tostão fez uma jogada genial de chaleira e Pelé completou para deixar o placar em 3×1, aos 22 minutos. O segundo gol da Romênia saiu tarde, já aos 39. Satmareanu recebeu em profundidade na direita e cruzou. Dembrowski subiu mais que todo mundo para fazer 3×2. Mas não havia tempo para um empate. A seleção romena estava eliminada da Copa do Mundo de 1970, após lutar bravamente contra o Brasil. O resto da história para a seleção brasileira todo mundo conhece. A Romênia levaria mais 20 anos para voltar à um Mundial. O retorno foi feito na Itália, em 1990, no começo da melhor geração da história da Nationala.

Depois de 32 anos desde a última participação romena na Copa do Mundo, a base da seleção passou por grandes transformações. Steaua e Dinamo, fundados em 1947 e 1948, respectivamente, estão agora entre as principais potências do país, junto com o Rapid, que já tinha jogadores convocados em 1934 e 1938. A Era de Timisoara e Oradea já não existe mais, e há um espaço para o Steagul Rosu Brasov, o atual FC Brasov. Outros clubes tradicionalíssimos do futebol romeno também fornecem jogadores, como o UTA Arad, o Farul Constanta (ambos rebaixados para a Liga III 2014-15), Petrolul Ploiesti. A grande estrela daquela equipe era o meia Nicolae Dobrin, do Arges Pitesti. De drible rápido e fácil, foi o primeiro grande jogador romeno pós-2ª Guerra. Diferentemente das participações seguintes (1990, 1994 e 1998), nenhum jogador atuava fora do país, que em 1970 vivia os primeiros anos do governo comunista de Nicolae Ceausescu.

Goleiros:
1 – Necula Răducanu (Rapid Bucareste), 24 anos
21 – Stere Adamache (Steagul Roşu Braşov), 28 anos
22 – Gheorghe Gornea (UTA Arad), 25 anos
Zagueiros:
3 – Nicolae Lupescu (Rapid Bucareste), 29 anos
14 – Vasile Gergely (Dinamo Bucareste), 28 anos
15 – Ion Dumitru (Rapid Bucareste), 20 anos
20 – Nicolae Pescaru (Steagul Roşu Braşov), 27 anos
Laterais-direitos:
2 – Lajos Sătmăreanu (Steaua Bucareste), 26 anos
12 – Mihai Ivăncescu (Steagul Roşu Braşov), 28 anos
Laterais-esquerdos:
13 – Augustin Deleanu (Dinamo Bucureste), 25 anos
4 – Mihai Mocanu (Petrolul Ploieşti), 28 anos
Meio-campistas:
5 – Cornel Dinu (Dinamo Bucareste), 21 anos
6 – Dan Coe (Rapid Bucareste), 28 anos
7 – Emerich Dembrowski (Dinamo Bucareste), 24 anos
10 – Radu Nunweiller (Dinamo Bucareste), 25 anos
16 – Alexandru Neagu (Rapid Bucareste), 21 anos
17 – Gheorghe Tătaru (Steaua Bucareste), 22 anos
8 – Nicolae Dobrin (Argeş Piteşti), 22 anos
Atacantes:
9 – Florea Dumitrache (Dinamo Bucareste), 22 anos
11 – Mircea Lucescu (Dinamo Bucareste), 24 anos
18 – Marin Tufan (Farul Constanţa), 27 anos
19 – Flavius Domide (UTA Arad), 24 anos

Quantidade de jogadores por cidade/clube:

Bucareste: 14
Dinamo: 7
Rapid: 5
Steaua: 2
Brasov: 3
Steagul Rosu Brasov
Arad: 2
UTA Arad
Pitesti: 1
Arges Pitesti
Constanta: 1
Farul Constanta
Ploiesti: 1
Petrolul Ploiesti

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