Fizemos uma super entrevista com Costin Ștucan, um dos maiores jornalistas investigativos da Romênia

No Brasil, o jornalismo investigativo voltado a esportes tem expoentes como Juca Kfouri, Lúcio de Castro, Gabriela Moreira, Jamil Chade, Rodrigo Mattos, entre vários outros. Na Romênia, o principal jornalista investigativo de esportes é Costin Ștucan, repórter especial da Gazeta Sporturilor, o último jornal esportivo que ainda tem versão impressa no país.

Nos últimos tempos, o jornalista de 40 anos tem publicado reportagens sobre o que há por trás da manipulação de resultados no futebol, um mazela muito presente no futebol romeno, especialmente nos anos 90. E uma área extremamente delicada, em que se há muitas suspeitas, mas nem sempre provas documentadas. Enquanto uns veem teoria da conspiração, Ștucan busca apurar, e frequentemente encontra histórias de revirar o estômago. Como ele mesmo diz em um dos textos de seu blog, “no mundo dos jogos manipulados é quase impossível um jornalista obter provas irrefutáveis. Diferente de outros domínios, os manipuladores não assinam documentos. As marmeladas não deixam rastros”.

Ainda neste ano e saindo da temática da manipulação de resultados, o romeno desmentiu nada menos que a Forbes, que havia feito uma lista dos agentes de esportistas com mais ganhos em comissões no mundo. A revista estadunidense havia colocado o desconhecido romeno Constantin Dumitrașcu como número 1, mas o jornalista descobriu que nenhum dos jogadores supostamente representados pelo empresário (a lista incluía nomes como Cavani e Lloris) sequer o conheciam.

Ștucan iniciou sua carreira aos 18 anos, no extinto jornal impresso Sportul Românesc, após ver o anúncio de que o periódico precisava de repórteres para cobrir a segunda e a terceira divisão da Romênia. No entanto, logo passou para a editoria internacional, onde escrevia sobre o campeonato de que mais gostava: a Premier League. Também foi repórter nos jornais ProSport e Gazeta Sporturilor (onde participou das reportagens que denunciaram um escândalo de corrupção na loteria esportiva romena), editor-chefe do canal pago de TV Sport.ro (hoje Pro X) e apresentador em outros canais, como Realitatea, GSP TV (a extinta TV da Gazeta Sporturilor) e no DolceSport (hoje Telekom Sport). Foi e voltou do jornalismo investigativo várias vezes, até retornar pela última vez quando retornou ao ProSport, em 2012. No final de 2016, iniciou sua segunda passagem pela Gazeta Sporturilor. Neste mês, uma de suas reportagens (em parceria com o jornalista Sebastian Culea, sobre amistosos fraudados no Chipre envolvendo árbitros e clubes romenos) foi uma das dez vencedoras do Prêmio Wordball 2017, da plataforma Goalden Times,  na categoria “melhores escritos contemporâneos”.

Nesta entrevista exclusiva feita toda no idioma romeno em 12 de novembro, Costin Ștucan fala sobre a imprensa romena, sua desilusão com o futebol, os times para os quais torce, as manipulações de resultados e sobre a briga que comprou com Gheorghe Hagi depois de suas reportagens sobre o Viitorul. O jornalista esteve por trás de investigações e matérias que colocavam o time do Maradona dos Cárpatos sob suspeita de resultados manipulados, e agora seu antigo ídolo o vê como um desafeto.

“As pessoas não querem a imprensa de qualidade tanto quanto elas a defendem”

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Nos tempos de Sport.ro, o jornalista foi demitido após sofrer pressões de Gigi Becali, dono do Steaua/FCSB (print: Sport.ro)

O Craiovano: Como você vê o jornalismo esportivo romeno hoje? É muito mais entretenimento que jornalismo voltado à grande reportagem, à investigação?
Costin Ștucan: Infelizmente eu acho que este é um processo irreversível. Não acho que haverá um momento no futuro próximo em que alguém vai chegar e dizer “OK, vamos fazer um jornalismo de investigação, voltado ao interesse público, com o risco de perder um ou dois milhões de euros por ano”. Acho que isso não vai existir. Mas os jornalistas têm sua parcela de culpa, tanto quanto o público. Tem muita coisa a se discutir sobre isso. Podemos falar sobre educação, sobre como a educação foi ignorada na Romênia nos últimos 25 anos. “Por que o público não lê este tipo de conteúdo?” “ Por que o público não foi educado a ler este tipo de conteúdo?” Há muito que se discutir sobre isso, e eu não acho que alguém tenha uma solução para este problema. Mas é muito claro que as pessoas não querem a imprensa de qualidade tanto quanto a defendem. Claro, generalizamos, mas a maioria do público não quer tanto uma imprensa de qualidade quanto diz querer. Não sei se é questão de o público ser bom ou ruim, mas são pessoas que foram acostumadas ao conteúdo de graça. Porque o online é muito isso, claro que muitos veículos tentam no online algumas formas de que o público faça uma contrapartida, mas não existe uma receita exata para se conseguir isto. Mas o público se acostumou assim. Quer conteúdo de qualidade grátis, ao mesmo tempo em que um jornal precisa viver de alguma coisa. E se o público não paga, precisa ser a publicidade, e a publicidade está automaticamente ligada aos números de audiência.

 

O Craiovano: Em 2009, você se demitiu da GSP TV em sinal de solidariedade ao seu colega Decebal Rădulescu, que havia sido demitido porque o então presidente da LPF [Liga Profissional de Futebol), Dumitru Dragomir (que era o dono do Sportul Românesc, onde você começou sua carreira) usou do cargo que tinha para forçar estas demissões. Como foi esta história?
CȘ: A GSP TV era uma das emissoras que tinha, naquela época, os direitos de transmissão da Liga I. O problema é que o programa que eu fazia com o Decebal Rădulescu não era conveniente a muitas pessoas do futebol romeno, e aqui me refiro a presidentes, donos de clube e ao presidente da LPF, Dumitru Dragomir. Tivemos uma conversa com o diretor da emissora, e ele nos falou que o Dumitru Dragomir nos enviou um comunicado que nos ameaça – atenção – nos ameaça de agendar todos os jogos do campeonato para meio-dia. Era um chantagem, numa situação absurda: um grupo importante de mídia, pagando muito dinheiro – fizemos um cálculo, eu e o Catalin Tolontan [outro dos principais jornalistas esportivos romenos], de que a transmissão de um jogo da Liga I custa em torno de 100 mil euros. Um custo enorme para a qualidade oferecida pela Liga I, que é no mínimo duvidosa. No mínimo. Então o grupo superestima um campeonato, paga mais do que ele vale, muitas vezes até mais do limite para que haja lucro, e não tem nenhuma via de negociação com a instituição que recebe o dinheiro. Paga, e é chantageado. Me parece inexplicável. E é algo que continua a acontecer na Romênia com todos os que detêm direitos de transmissão, sob a máscara do “vamos proteger o produto, não podemos denegrir o produto”, e eu posso entender esta máscara até certo ponto. Mas a partir do momento em que começam a haver irregularidades na respectiva liga, eu como imprensa quero relatar, tenho que relatar, preciso relatar.

 

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Ștucan trabalha atualmente na Gazeta Sporturilor e é um dos principais expoentes do jornalismo esportivo romeno (foto: Gazeta Sporturilor)

O Craiovano:  E essa ameaça foi a troco de quê, mesmo?
CȘ: Criticávamos muito os presidentes de clubes da Liga I e os donos de clubes da Liga I, e aqui era o grande problema: os donos de clubes da Liga I. Duas semanas antes de Decebal Rădulescu ser demitido e eu sair em solidariedade, nós dois fomos, eu acho… Aliás, acho não, tenho certeza: nós fomos os dois primeiros jornalistas de TV do país que decidiram que a partir daquele momento, Gigi Becali [dono do Steaua/FCSB] não entraria mais ao vivo nos nossos programas por telefone [uma prática muito comum na TV romena é entrevistar donos de clube por telefone. Muitas vezes, eles mesmos ligam para as TVs para participarem dos debates]. E não entrou mais. E duas semanas depois, veio a demissão. E esta situação com Becali se repetiu quatro anos depois, em 2013, quando eu estava no Sport.ro [nesta ocasião, Ștucan foi demitido].

O Craiovano: Alguma coisa mudou agora com Gino Iorgulescu na presidência da LPF?
CȘ: Não sei se Gino Iorgulescu fica ligando pras redações dos canais que têm os direitos de transmissão como fazia Dumitru Dragomir, mas sei que dentro da LPF existem discussões frequentes e que há represálias por parte da LPF sobre a DigiSport, por exemplo. E há muitas discussões contraditórias nisso. A liga quer que o produto não seja manchado, mas não faz nenhum esforço pra mudar sua imagem, do meu ponto de vista.

“Hagi precisa ser sincero consigo mesmo”

O Craiovano: No fim da última temporada, houve uma investigação ligada a fraudes por apostas na Liga I, relacionadas principalmente ao Viitorul. O Hagi, até onde vi, ficou muito chateado, ameaçou sair do país e disse que “há um grupo que quer me destruir”. No fim das contas, foram matérias suas. Você acha que houve algum tipo de erro? Hagi poderia não estar envolvido, ainda que estes problemas existissem no Viitorul?
CȘ: Eu acho que Hagi precisa ser sincero consigo mesmo. Desde as nossas investigações anteriores no ProSport e agora na Gazeta Sporturilor, o Viitorul subiu para a Liga I de forma extremamente suspeita [em 2012]. Pra não dizer mais. O Viitorul esteve envolvido em um jogo manipulado em sua última partida na Liga II. Há uma matéria completa do ProSport, daquele tempo, que mostra claramente que houve uma mala preta ao time enfrentado pelo Viitorul na última rodada. Esse é o primeiro ponto.

O segundo é que o Viitorul Constanța escapou do rebaixamento, pelo menos na sua primeira temporada na Liga I, com um jogo manipulado. Não precisamos amenizar as palavras. O jogo Steaua 2×5 Viitorul, na última rodada da primeira temporada do Viitorul na Liga I, foi um jogo manipulado. O técnico do Steaua, Laurențiu Reghecampf, foi quem reconheceu pela primeira vez, na TV, e disse: “eu não faço coisas deste tipo. Eu me demito”. Depois, claro o dono do Steaua, Gigi Becali, veio e disse que foi uma “gentileza”, e não uma mala preta. Becali e Hagi são parentes. Becali é padrinho de Hagi. Então foi um gesto de “gentileza”. Ajudou Hagi a escapar do rebaixamento.

Num campeonato em que as apostas em suas partidas têm crescido de forma exponencial, quem aposta num jogo sabe antes o resultado… Bem, digamos que o jogo foi arranjado, certo? O Viitorul tinha que vencer o Steaua. OK? Os dois sabiam: Hagi e Becali, OK? Por que os dois sabiam que era um jogo arranjado? Se você sabe que o jogo é arranjado, o que você faz com ele? Numa época em que se aposta muito na Liga I. Você ganha de 1×0, 2×0, ou você ganha de 5×2, numa cotação muito maior? O jogo foi um circo, reconhecido inclusive pelos torcedores do Steaua, durante o jogo.

O Craiovano: Mas como funciona? Quem sabe? Não é possível que tenha havido a manipulação sem o conhecimento de Hagi, sem o conhecimento de vários jogadores?
CȘ: Deixa eu te falar uma coisa:  na Academia Hagi não acontece absolutamente nada sem o aval de Hagi. Se uma folha de grama se mexe na Academia Hagi, Hagi sabe disso. Depois que o ProSport investigou o último jogo do Viitorul na Liga II, Um jogo contra o Săgeata [Navodari], sobre o qual três jogadores vieram até nós e disseram que foi manipulado. Não fomos nós que dissemos, três jogadores disseram. Que os jogadores do Săgeata [que fizeram denúncia anônima] receberam dinheiro para perder o jogo para o Viitorul [Os jogadores do Săgeata não recebiam salários há vários meses. Na reportagem do ProSport, realizada por Costin Ștucan e Costin Negraru, o presidente do Viitorul, Pavel Peniu, negou a manipulação, argumentando que seria muito possível vencer um time repleto de desfalques e em uma frágil situação financeira]. Publicada a reportagem, Gică Hagi, através de assessores, não diretamente, porque nunca quis falar pessoalmente sobre este assunto, disse que não sabia. E que o responsável era o presidente do clube, Pavel Peniu, que naquele momento ele queria demitir e iria demiti-lo por esta questão. E sabe quem é o presidente na Academia hoje? Cinco anos depois? Pavel Peniu. Então estamos falando do quê?

O Craiovano: É… É difícil… E sobre a última temporada…
CȘ: Na última temporada, Gică Hagi vence o campeonato. A Academia vence o campeonato. Houve pelo menos dois jogos do play-off, com o Astra e com o Universitatea Craiova, em que os dois times jogaram mal, de forma suspeita. O Craiova ainda chegou a jogar com cinco jovens da base, embora não tivesse desfalques.

Parênteses: O jogo do Astra em questão é Astra 1×2 Viitorul, em 3 de abril de 2017, na 3ª rodada de 10 do play-off da Liga I. O resultado manteve o Viitorul com três pontos de vantagem sobre o Steaua/FCSB e teve repercussões imensas na Romênia. Veja os melhores momentos no vídeo:

E um trecho da coletiva de Hagi falando sobre as suspeitas:

 

O Craiovano: Depois dos casos de suspeita de manipulação de resultados e do Hagi Leaks*, você chegou a falar com Hagi?
CȘ: Não. Tentei fazer uma entrevista com ele, não consegui… Tenho que mandar um outro e-mail, mas a ideia é que…

O Craiovano: Não tem nada pessoal, no fim das contas…
CȘ: Não, absolutamente nada pessoal! Para mim Hagi foi um jogador extraordinário. Me lembro que em 1994, na Copa… O que Hagi e aquele verão de 1994 significaram para qualquer romeno que goste de futebol é indescritível. Não existe absolutamente nada pessoal, nenhum interesse, existe, por trás do que eu fiz, apenas o desejo de mostrar como estão as coisas no futebol romeno.

 

O Craiovano: Aqui no Brasil atual não se fala muito sobre manipulação de resultados. Acho muito estranho que vejo, no Facebook, num jogo qualquer… em que sei lá, o Concordia Chiajna ganha do CFR Cluj com 1×0 e gol no final, vejo muitos comentários acusando o jogo de ser manipulado. Não beira o exagero?
CȘ: Eu acho que as pessoas podem e devem colocar sinais de interrogação no futebol de hoje. Você, como jornalista, precisa dar o benefício da dúvida aos jogos. Porque acontecem coisas muito estranhas no futebol da Romênia. E um lance como o que aconteceu com Golubovic, por exemplo. Como explicar?

O Craiovano: É muito difícil, vi aquele pênalti, e… É difícil. Claro que eu, pessoalmente não posso chegar e sair acusando dizendo que sei que ele fez de propósito, que fez porque apostou… Mas se coloca em dúvida.
CȘ:
Nem nós! Eu acredito que na época da Cooperativa, a imprensa funcionou de forma relativamente saudável, porque se escrevia muito sobre isso e as pessoas sabiam o que se passava. Provas não havia. Porque jornalista não é procurador pra fazer o flagrante no momento de um acordo ou de uma venda de um jogo. Mas a imprensa escrevia e fazia muito bem, nos anos 90, escrevendo sobre os jogos. Se um jogador x do Gloria Bistrița errasse de forma inexplicável, já se colocava uma dúvida. Não se dizia que era manipulado, mas se desconfiava. E a imprensa precisa desconfiar o tempo todo.

O Craiovano: Quanto tempo duraram estas últimas investigações das quais você participou, mais ou menos?
CȘ: Depende.  O Hagi Leaks vem da primeira parte do Football Leaks. Porque no ano que vem haverá uma segunda parte… A rede de investigação da qual faço parte fará uma outra leva, porque posso dizer, e quem ler esta entrevista fica sabendo em primeira mão: o vazamento de informações e dados continua, e é muito grande se comparado ao que tivemos inicialmente. No Football Leaks, por exemplo, eu e os outros 60 e poucos jornalistas envolvidos [da agência European Investigative Collaborations, composta por jornalistas de diversos países europeus, como Alemanha, Dinamarca, Inglaterra, Portugal e Espanha] trabalhamos cerca de oito meses. Até o momento da publicação das matérias, em dezembro de 2016. É um tempo em que você não pode sair totalmente do ritmo normal de uma redação, e você tem que produzir outras coisas, porque seria inviável ficar trabalhando só nisso. E aí voltamos aqui aos princípios de “rentabilidade” e aos racionamentos econômicos que prendem o jornalismo. Se nessa primeira parte estiveram presentes grandes nomes internacionais e os temas eram os impostos de Cristiano Ronaldo, José Mourinho, e depois todos os problemas de empresários que afetaram até o Hagi…

“Foram desmoronados dois mitos para mim. Um: o do Dinamo. Dois: o de Mircea Lucescu”

O Craiovano: Partindo para um assunto mais leve, aqui no Brasil é normal que os jornalistas assumam os times para os quais torcem. Não chega a ser um grande problema, e é uma atitude muitas vezes bem vista. E você, para qual time torce?
CȘ: Eu torcia para o Dinamo quando era criança. Não é nenhuma novidade por aqui. Eu torcia para o Dinamo, endeusava Mircea Lucescu [atual técnico da Turquia, grande ídolo do Dinamo como jogador e técnico, levou o Shakhtar Donetsk ao título da Liga Europa em 2009 e já treinou clubes como Galatasaray, Internazionale e Zenit]… Mas a partir do momento em que comecei na imprensa, em 1995, no começo eu não sabia de muita coisa, mas…  Aos poucos, convivendo com os outros jornalistas, que escreviam sobre os jogos manipulados pela Cooperativa… Eu comecei a saber de muitas coisas. Numa época ele foi ser técnico do Rapid…

O Craiovano: Sim, 1998, campeão da Copa em cima do Craiova.
CȘ: Exato. E haviam muitos debates sobre como o Rapid ganhava os jogos, como o Dinamo ganhava os jogos… E com uma, duas temporadas, foram desmoronados dois mitos para mim. Um: o do Dinamo. Dois: o de Mircea Lucescu. Naquele momento fiquei extremamente desiludido pelo que eu comecei a descobrir, ficava claro que não eram especulações. E o futebol romeno parou de existir para mim como elemento de paixão, ali por 1997, 1998. Hoje o Dinamo não me dá nenhuma emoção, não me comove.

No momento em que você é jornalista, você passa a ter acesso a um outro nível de informação, ainda que você não tenha provas o tempo todo. Mas no dia a dia, ano a ano, você vai juntando pedacinhos pequenos de informação, e eu já tenho 22 anos de imprensa… E estes pedaços se juntam e formam imagens de pessoas do futebol romeno que não são falsas, não têm com ser. E digo que um jornalista esportivo não consegue saber de 5% do que acontece na vida de um clube.

O Craiovano: Então, para você, não é possível ser jornalista esportivo e torcer para seu clube e ver o futebol com uma paixão de antes? 
CȘ: Eu falo apenas no meu nome: eu não consigo. A partir do momento em que leio e descubro… Não consigo, simplesmente. Não dá pra fingir não aconteceu nada. Não consigo fingir que o Dinamo é um clube sério, civilizado, honesto… Descobri como Dinamo conquistava títulos e bons desempenhos antes da Revolução, justamente na minha época de apaixonado… Assim como descobri como Steaua conquistava títulos e bons desempenhos antes da Revolução. Sim, claro que conseguiram grandes coisas a nível internacional, mas porque é como se estivessem praticamente treinando durante uma temporada inteira. E naquela época os jogadores não iam para o exterior, então com grandes jogadores atuando juntos ano após ano, então saíram grandes times, o Steaua ganhou a Copa dos Campeões, o Dinamo chegou nas semifinais [da Copa dos Campeões em 1984 e da Copa dos Campeões de Copas em 1988].

O Craiovano: Teve também os UEFAntásticos de 2006…
CȘ: Sim… Mas aquilo foi puramente por acaso.

O Craiovano: Mas você continua torcendo pro Liverpool?
CȘ: Sim. Sim. Mas não com a mesma paixão de uns quatro, cinco anos atrás.

O Craiovano: Para encerrar, quais são os seus jogadores preferidos? O preferido romeno de hoje, o preferido romeno de todos os tempos, o preferido do mundo de hoje, o preferido do mundo de todos os tempos.
CȘ: [Pensa por vários minutos antes de responder cada um]  Na Romênia, atualmente… (risos) É uma pergunta muito difícil. Sinceramente. Eu gosto do… Não gosto do Budescu, não gosto do Alibec…

O Craiovano: Băluță?
CȘ:
… Olha… Sim! Gosto dele, sim. Mas agora, depende dele pra ver o quão alto será seu nível na carreira… Aqui existe um problema de mentalidade no jogador romeno. … To aqui pensando em algum jogado do Viitorul, mas…

O Craiovano: Eric!
CȘ:
(risos) Sim… Eric. … Não sei quem mais te dizer… [do Steaua/FCSB, Dennis] Man, talvez… Mas é muito difícil, muito difícil eu encontrar um jogador romeno que eu pare e diga “nossa, que grande craque”. Muitos diriam imediatamente Budescu ou Alibec. Sim, são jogadores muito talentosos. Muito talentosos mesmo. Mas a ética de trabalho deles é… Assim, não posso admirar um cara que trabalha bem só quando tá a fim.

O Craiovano: E de todos os tempos?
CȘ:
De todos os tempos… Eu gostava muito do Hagi. Mas pela minha paixão pelo Dinamo antes da Revolução, digo que… Dănuț Lupu é um jogador do qual eu gostava muito. Diziam uns que chegava a ser mais talentoso que Hagi. Talvez. Mas sua ética de trabalho era muito inferior. Se bem que em certo momento da carreira de Hagi, nem ele foi um exemplo. Mas enfim, a gente iria ficar dias discutindo isso. Mas é isso. Hagi e Lupu…

Indo para o futebol internacional, meu ídolo de infância foi Steve McManaman, ex-jogador do Liverpool, genial, que teve o azar de chegar num Real Madrid da época em que Florentino Pérez começava a comprar muitos galáticos. E ele não tinha essa de marketing pessoal, de se vender. Foi o cara da final da Champions League de 2000, 3×0 contra o Valencia em Paris. E os jogadores daquela época diziam que ele era a cola no vestiário. Como ele não tinha um ego tão grande, conseguia unir as estrelas. Antes dele, eu gostava muito de três: Careca, van Breukelen, goleiro da Holanda de 88, e Ruud Gullit. E Romário! Romário também!

O Craiovano: E na atualidade? Vejo que você cita nomes do passado com muita facilidade, mas os de hoje… 
CȘ: (risos) É o que acontece quando a gente envelhece. Brincadeira. Gosto muito do Suárez, desde que vi ele pela primeira vez no Groningen. Não gosto do Cristiano Ronaldo, que é espetacular, trabalha muito. Gosto do Messi, não significa que o Messi não se esforça. Mas com ele é algo… Diferente. É atingido pela luz, por poeira mágica das estrelas, é mais natural. Mas gosto muito do Suárez. Gosto da malícia dele, mesmo nos momentos ruins, em que exagera. Sinto que ele penou muito durante toda a vida pra chegar onde chegou. Pena que tá envelhecendo. Ele corre o tempo todo, não é que nem uns e outros que ficam com a mão no bolso quando o time tá defendendo.

O Craiovano: Costin, muito obrigado pela atenção e pelo tempo, foi uma entrevista longa. Agradeço demais.
CȘ: Eu que agradeço. Foi um grande prazer pra mim também!

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*escândalo encontrado no Football Leaks (vazamento mundial de milhões de documentos confidenciais ligados a empresários, dirigentes, técnicos e jogadores de futebol) que revelou irregularidades na venda do lateral direito Cristian Manea, do Viitorul, para o Mouscron, da Bélgica, com uso de paraísos fiscais e uma negociata usando o clube cipriota Apollon Limassol como intermediário. O Viitorul emitiu nota oficial na época, em dezembro de 2016, afirmando ter feito a transferência de forma totalmente oficial e legal. O site Transfermarkt aponta Manea como jogador do Apollon Limassol. O jogador atua hoje pelo CFR Cluj, em empréstimo. Saiba mais nesta matéria da agência The Black Sea, para a qual Ștucan colabora (em inglês).

Matéria recomendada por Costin Ștucan sobre jogadores de futebol e apostas: Kyle Lafferty, jogador da seleção da Irlanda do Norte, sobre seu vício (em inglês).

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