A luta do título pelo Romenão acabou hoje, pelo menos dentro do campo. O Viitorul Constanta venceu o CFR Cluj por 1×0 e levou o caneco no Estádio Orasenesc na cidade de Ovidiu. Nos outros jogos da rodada, o Steaua/FCSB destruiu o CS Universitatea Craiova por 3×0 e o Dinamo empatou em 1×1 com o Astra. Mas estes resultados colocaram um ponto de interrogação em todo o campeonato.
Não tem como falar do título do Viitorul sem explicar a bagunça que a última rodada causou. Com as vitórias do campeão e do Steaua/FCSB, ambos terminaram com 44 pontos no play-off. E os critérios de desempate são completamente dúbios.
A Liga Profissional de Futebol determina que o critério de desempate é o confronto direto nos dois jogos do play-off. Neste caso, o Viitorul venceu por 3×1 em casa e empatou em 1×1 fora, ficando com o título. Mas o que está escrito no regulamento não é tão preciso assim.
O Regulamento de Organização das Atividades Futebolísticas (ROAF) fala em confronto direto no “campeonato”. Isto abre margem para o Steaua considerar os jogos da primeira fase e os do play-off. Neste caso, O Steaua tem uma vitória por 3×1 em Ovidiu e outra por 2×0 em casa, vencendo qualquer confronto direto que não considere apenas os jogos dos play-offs. E o dono do clube, Gigi Becali, vai ao Tribunal Arbitral do Esporte para buscar a 27ª taça do campeonato romeno para o clube (ou 6ª, se considerarmos só a Era Becali, já que o milionário não detém os direitos sobre a marca Steaua, que pertencem exclusivamente ao Ministério da Defesa de acordo com decisões judiciais e o clube se chama oficialmente FC FCSB – mas esta é outra história).
A LPF publicou uma nota hoje, horas antes dos jogos começarem:
“Referente às discussões surgidas no espaço público sobre o critério de desempate de confrontos diretos entre equipes empatadas em número de pontos ao fim do play-off, fazemos os seguintes esclarecimentos:
Desta forma, tendo em vista os desempates entre times encontrados em igualdade de pontos no fim do play-off, será utilizado o critério de confrontos diretos em turno e returno da fase play-off, sem considerar os confrontos diretos do campeonato da temporada regular.
Além disso, esta modalidade de desempate não é utilizada de forma inédita pela Liga Profissional de Futebol, que utilizou este sistema também na temporada 2015-16, quando o desempate dos times CSMS Iasi e CS Universitatea Craiova foi feito com base nos jogos de turno e returno disputados no play-out, e não levando em conta todos os jogos disputados na competição inteira. E ainda, a legalidade dos critérios de desempate usados pela LPF foi confirmada em decisão do Comitê Executivo da FRF em 7 de junho de 2016 através da qual foi aprovada a classificação final da Liga I Orange.
No apoio da posição oficial da Liga Profissional de Futebol apresentada acima lembramos ainda a jurisprudência do Tribunal Arbitral do Esporte da Lausanne que, em um caso recente (dossiê CAS2016/A/4722) fez uma distinção clara entre o campeonato da temporada regular e a fase de play-off/play-out como dos elementos distintos da competição esportiva anual organizada pela Liga Profissional de Futebol.
É importante lembrar que estes critérios de desempate foram conhecidos, aceitos e aplicados por todos os membros da família do futebol romeno, motivo pelo qual manifestamos esperança de que os times implicados na batalha pelo título disputarão a luta pelo troféu apenas no campo de futebol e não irão apelar a subterfúgios jurídicos projetados para criar confusão a jogadores e torcedores.”

No campo
O Dinamo sempre correu por fora na luta pelo título e nada pôde fazer, já saiu atrás contra o Astra no Stefan cel Mare e apenas empatou em 1×1. E como Steaua/FCSB e Viitorul nunca estiveram atrás do placar, o sucesso ficou impossível.
Enquanto isso, na Arena Nationala, o CS Universitatea até ameaçou, mas foi massacrado pelo Steaua/FCSB por 3×0. e o título estava cada vez mais próximo de Bucareste Mas aos 20 minutos do segundo tempo, a torcida se calou na capital e explodiu em Ovidiu, com o estádio lotado como nunca antes foi. Gabriel Iancu, ex-jogador do Steaua e revelado no Viitorul, converteu o pênalti e fez 1×0 em cima do CFR Cluj. Steaua e Viitorul ficavam agora empatados em pontos, e de acordo com a LPF e a FRF, isto significa título em Ovidiu.
O clima ficou muito tenso e as atenções estavam todas voltadas para aquele jogo. O CFR Cluj, que não brigava por mais nada na temporada, se esforçou para empatar, fez pressão, mas parou no goleiro Victor Râmniceanu. As três partidas se encerraram, e o Viitorul conquistou pela primeira vez o campeonato romeno.
O clube tem apenas oito anos de vida. Na verdade, o Viitorul é o time profissional da Academia de Fotbal Gheorghe Hagi. Fundado em 2009 pelo “Maradona dos Cárpatos” para revelar grandes talentos ao futebol romeno, o Viitorul começou profissionalmente na Liga III. Em 2009-10 conquistou a Liga III, e em 2011-12, foi vice-campeã da segunda divisão e conseguiu o acesso à elite.
O Viitorul penou em seus primeiros anos de Liga I. Em 2012-13, ficou em 13º lugar e escapou do rebaixamento. Em 2013-14, terminou na 12ª posição. Em 2014-15, na 11ª. Em setembro de 2014, Hagi deixou de ficar apenas nos bastidores como proprietário e dirigente para se tornar também o técnico da equipe. E e na temporada seguinte, os resultados foram claros. O time chegou aos play-offs (era a primeira vez do Romenão com este formato) e terminou num honroso 5º lugar. Isto levou a equipe de Hagi às preliminares da Liga Europa, mas duas derrotas para o Gent, por 3×0 e 2×0, foram decepcionantes.
Na temporada 2016-17, o clube liderou da 20ª à 26ª rodada, e nunca mais se distanciou da luta pelo título inédito. A taça veio. Se depender do Steaua, é possível que vá embora logo. A torcida de Hagi e seus garotos é agora fora do campo, no Tribunal Arbitral do Esporte, porque a Liga Profissional de Futebol da Romênia é incompetente o bastante para não ser clara no primeiro critério de desempate.
Para Hagi, o título tem um gosto ainda mais especial. Ele fundou o clube por iniciativa própria, investiu seu dinheiro na formação de talentos, assumiu o comando técnico há quase três anos e agora colhe os frutos em forma de troféu. É apenas seu segundo título como técnico. O primeiro foi a Copa da Turquia em 2004-05 pelo Galatasaray.
Futebol romeno é uma bagunça já há alguns anos, talvez se não fosse isso a seleção, que se não tem grandes estrelas, mas tem alguns bons nomes como Chiriches, Stanciu e Andone brigaria de fato por uma vaga na Copa da Rússia. Sempre acompanhei o futebol romeno, desde a Copa de 90 (claro, com a precariedade da pouca informação da época), mas nos últimos anos é visível o caos, principalmente fora dos gramados. Continue com as postagens, mano, sou muito fã do futebol da Terra do Drácula. Saudações rubro negras.
Obrigado, amigo. É verdade, há bons jogadores, mas a estrutura interna do futebol romeno é só ruína. Continue ligado. Não estamos no mesmo ritmo de anos atrás, mas continuaremos postando. Fique de olho também no YouTube, onde temos entrevistas (incluindo uma com Hagi), documentário e outros conteúdos. Saudações vascaínas 😉
A verdade é que o futebol romeno vive um caos fora de campo já há alguns anos. Clubes em insolvência financeira (incluso um grande, como o Rapid, afundado em outras divisões). Talvez se o futebol local fosse mais organizado, o reflexo seria uma seleção nacional mais forte. É obvio que hoje em dia não se tem muita qualidade mesmo, mas o país tem bons nomes como Chiriches, Marin, Stanciu e Andone. Radu da Lazio não joga mais pela selação, por isso não o incluí.Não duvido nada do Vitorul perder o título nos bastidores, infelizmente. Acompanho a Romênia desde a Copa de 90 (claro, com a precariedade de pouca informação da época, né). Continue com as postagens, mano, tá de parabéns. Saudações rubro negras.
Não sei a sua opinião, e não sei se tu nessa época já fazia matéria ou acompanhava o futebol lá das bandas dos Cárpatos, mas a Romênia tinha condições de ter disputado pelo menos três das últimas quatro Copas que ficou de fora. Muitos jogadores com grande talento como Lobont, Contra, Ogararu, Chivu, Tamas, Sanmartean, Dica, Maries e Daniel Niculae, Marica, Mutu, Sapunaru, quase todos jogaram em grandes clubes e tiveram grande momento. Acho que faltou um pouco de sorte e também faltou um certo Mircea Lucescu no comando. Obs. Esse primeiro comentário que apareceu aí também é meu, só que esqueci de por o nome.
Rafael, nasci justamente em 1994, completarei 23 anos no próximo dia 5, não vi absolutamente nada dos melhores momentos da Romênia hahaha. Escrevi sobre os UEFAntásticos de 2005-06 aqui https://craiovano.wordpress.com/2017/02/13/a-ultima-magica-do-futebol-romeno/
Eu tenho certeza que a geração de Mutu e Chivu foi muito talentosa, todas as classificações (tirando a da Copa de 2010) foram perdidas por detalhes. Todo o ambiente podre em que o futebol romeno se encontra ajudou no fracasso daqueles times.
Recomendo o documentário Em Busca do Futebol Perdido, é um baita filme que tive o prazer de legendar. É sobre como o futebol romeno saiu da Geração de Ouro para o desastre atual https://www.youtube.com/watch?v=pUw4tnrVS6A
Sobre esse tema que tu citou aí, dos UEFANTÁSTICOS, me lembro que nessa época, a Romênia sempre colocava muitos clubes na antiga Copa UEFA, Teve um ano que foram 4 equipes nessa competição e duas na Liga dos Campeões, e a liga romena estava entre as dez mais importantes da Europa. Aquele gols os ingleses do “Boro” no finalzinho contra o Steaua talvez tenha sido um divisor de águas, talvez tecnicamente a liga ainda poderia ter alguma significância continental se o time romeno chegasse a final. Dica era impressionante, um meia clássico, demorou a sair do país, e quando saiu foi para o Palermo. Era um jogador que era convocado mas não tinha tantas oportunidades, acho que aconteceu com ele o mesmo que aconteceu com Sanmartean recentemente, que recebia poucas chances, apesar de estar jogando muito. O técnico norte irlandês chegou a dizer nas eliminatórias da Euro “onde o estava escondido esse tempo todo”. Sinceramente, faltou o Mircea Lucescu no comando de granes nomes que atuavam em grandes e médios clubes da Europa. Na boa, se continuar dessa maneira, a “nationala” tem tudo pra fazer frente futuramente apenas a equipes do último escalão europeu.