
Emanuel Rosu se formou em Administração Pública na Escola Nacional de Estudos Políticos e Administrativos (SNSPA), em 2009, mas nunca trabalhou exatamente na área. Desde 2008, já estava trabalhando como redator para a Gazeta Sporturilor, um dos maiores meios de comunicação esportiva da Romênia. No começo de 2011, aos 24 anos, já ocupava o cargo de editor no Sport.ro, canal de TV por assinatura e site esportivo, vinculado à rede ProTV. “Escolhi este trabalho porque eu pensei sobre o que eu poderia ser, e nada me veio à cabeça. Era minha maior paixão, eu achei que tinha talento para isto e fui atrás do meu sonho”, lembra Rosu.
Em 2012, Rosu ficou conhecido por toda a Romênia ao ser convidado pela revista France Football a ser o representante da imprensa nacional a votar nas eleições da Bola de Ouro da FIFA. Com isso, o editor do Sport.ro assumiu uma função de um dos maiores jornalistas esportivos do país e um dos ícones da imprensa romena, Ovidiu Ioanitoaia. Em 2013, Rosu foi convidado mais uma vez. E no voto do ano passado, não teve vez para Cristiano Ronaldo ou Messi. Foi Ibrahimovic em primeiro, Ribéry em segundo e Robben em terceiro.
Em entrevista exclusiva a’O Craiovano, Emanuel Rosu explica porque a seleção romena não é a mesma de antes. Também critica a administração do futebol do país e o fraco jornalismo esportivo romeno. Por outro lado, o jornalista tem um pé no Brasil. Vai torcer pela seleção brasileira, tem ídolos brasileiros no futebol. E demonstra um raro otimismo com a realização da Copa do Mundo aqui no país.
O Craiovano – Você ganhou visibilidade após ser eleito como o jornalista romeno a votar para a Bola de Ouro FIFA/France Football em 2012. Como você chegou a esta honra?
Emanuel Rosu – Aconteceu em novembro de 2011. Eu havia recebido um e-mail da France Football e meio que foi isso, estava muito tímido para fazer qualquer questionamento sobre o porquê de eu ser eleito. Era uma grande honra, então aceitei sem falar nada (risos).
O Craiovano – Você vai votar de novo em 2014?
ER – Não quero parecer um jogador de futebol, mas não depende de mim. É decisão da “diretoria”! (risos) Eu to brincando, mas realmente não cabe a mim a decisão. Se a France Football me pedir para votar de novo, será uma honra enorme, como sempre.
O Craiovano – Antes de você, quem votava era Ovidiu Ioanitoaia [um dos maiores jornalistas esportivos da Romênia, atualmente com 69 anos] quem votava pela imprensa romena. Houve uma tensão entre vocês por você ter menos experiência e fama? Vocês se conhecem, se dão bem?
ER – Nós nos conhecemos. Eu trabalhei para a Gazeta Sporturilor antes de ir para o Sport.ro, há três anos e meio. Não houve nenhuma tensão, não que eu tenha sentido. Tenho muito respeito pelos meus colegas.
O Craiovano – Você colaborou para o New York Times, em uma reportagem sobre Tudorel Mihailescu, o goleiro de uma mão só do Fratia Bucareste. Como aconteceu?
ER – Acho que “Colaborar” é um termo muito forte. Fui apenas a ponte, o contato entre duas grandes pessoas: Tudorel Mihailescu e James Montague [jornalista que tornou Mihailescu conhecido fora da Romênia com sua matéria]. James é um ótimo, excelente jornalista, um dos melhores que há por aí, e Tudorel e um homem do qual todo mundo deve aprender uma lição. Tive a honra de estar com os dois. Sem esquecer do pessoal do Fratia.
O Craiovano – Como você avaliaria o jornalismo esportivo romeno atualmente?
ER – O jornalismo esportivo romeno é como o futebol romeno. É apenas uma simulação. Gostamos de achar que temos, mas estamos passando por uma crise terrível. É triste, é a realidade que vejo todo dia. Há alguns grandes jornalistas por aqui, mas isso não faz o jornalismo existir ao nível que deveria.
O Craiovano – Mais especificamente, o que impede o jornalismo de estar em alto nível?
ER – O sensacionalismo, os exageros, a complacência e a conivência da imprensa. A tendência a ignorar análises aprofundadas dos fatos, também.
O Craiovano – O futebol romeno era admirado por muitos ao redor do mundo até os primeiros anos da década de 2000. Muito disso se deve A Gheorghe Hagi e às gerações de 1994, 1998 e 2000. O que deu errado? Por que o futebol romeno está esquecido no mundo?
ER – Não há mentalidade de planejamento, não há sistema para criar outros jogadores de primeira linha, não há interesse no desenvolvimento há longo prazo. Não há investimentos feitos na infraestrutura, não há gestão inteligente por nenhum dos principais clubes. Há uma grande lista de elementos que não existem no futebol romeno, a falta destes elementos são motivos para isto. Estes são os cinco principais que faltam.
O Craiovano – Você vê o sistema atual do futebol romeno ideal para o país? Por exemplo, 18 clubes na primeira divisão com quatro sendo rebaixados é um bom formato?
ER – Não deveríamos ter mais que 12 times na Liga I. E não mais que 16 na Liga II.
O Craiovano – Não é uma quantidade muito pequena?
ER – A situação financeira na Romênia está muito ruim. O futebol não é nem um pouco atrativo aos investidores por aqui, depois de todas as dívidas e prisões que têm acontecido. É uma crise profunda, há um sentimento muito ruim, e é difícil dizer quando e se isto vai acabar. Parece que será um longo processo. Apenas dê uma olhada pelos clubes, e no Corona [Brasov] deste ano e você verá porque eles não podem competir. Os times do oitavo lugar pra baixo são muito fracos.
O Craiovano – Você vê um oponente forte para o Steaua nas próximas temporadas? Não temos visto muito disto desde a sequência CFR Cluj/Otelul Galati/Unirea Urziceni.
ER – Grande parte disso vai depender da política de transferências do Steaua. Se eles continuarem com o mesmo time, vai ser difícil para eles, porque o plantel atual está desmotivado. Acho que eles precisam de pelo menos quatro novos jogadores titulares para continuarem crescendo. Porque o Astra e o Petrolul vão vir muito fortes na próxima temporada.
O Craiovano – As ligas romenas têm muitas decisões importantes feitas nos tribunais, em processos que bagunçam as competições e quebram os clubes. Você vê o sistema de licenças como uma boa medida num país em que os clubes não têm dinheiro e estão frequentemente falindo?
ER – Nós não podemos ignorar o sistema de licenças. Há regras, e todos têm que respeitá-las. Quando eu digo “todos”, quero dizer “todos”, sem exceção. O problema é que na Romênia há o pensamento de que as regras podem ser interpretadas. Se a mesma regra fosse aplicada igualmente para todo clube, não haveria nenhum problema com os rebaixamentos. Os clubes aceitariam os descensos.
O Craiovano – Você com certeza sabe o que está acontecendo e o que já aconteceu no futebol de Craiova. Qual a sua opinião sobre o conflito? Quem cometeu os piores erros nos últimos anos?
ER – Tudo que aconteceu em Craiova recentemente é maluquice total. E pode acreditar, todos são culpados. É como um relacionamento ruim: Você não pode encontrar o único culpado. Todos são. Tem egos, decisões mal feitas, falta de dinheiro, tudo por todos os lados… Estas são algumas das várias razões pelas quais Craiova chegou na situação em que se encontra hoje. E só um torcedor de Craiova pode dizer se o recém-estabelecido CSU é ou não o seu clube.
O Craiovano – Para que time você torce na Romênia?
ER – Eu amo um time que não existe mais: Bucovina Suceava. É o time da minha cidade natal [Suceava, na região da Moldávia, nordeste da Romênia]. Nós temos outro clube lá atualmente, mas não o apoio. É o chamado Rapid CFR.
O Craiovano – E na Europa?
ER – Aí eu sou torcedor do Leeds United. Eu gosto de vários outros também. Recentemente, tenho me interessado muito pelas divisões inferiores da Alemanha.
O Craiovano – Quais são seus ídolos no futebol?
ER – Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, e o maior de todos: Ronaldinho.
O Craiovano – A Romênia quase se classificou para a Copa do Mundo. Até confesso a você que toda vez que eu consigo uma figurinha da Grécia para meu álbum, penso que poderia ser uma da Romênia. O que falta mais para a Nationala?
ER – Falta paixão, falta acreditar, falta respeito pela nação. Nós não merecíamos a classificação. Precisamos de jogadores novos. No mínimo uns oito.
O Craiovano – Você vê a Romênia disputando a Eurocopa ou a Copa do Mundo novamente?
ER – Na Euro 2016 nós vamos estar. Nós temos que estar, o grupo é muito fácil [Grécia, Hungria, Finlândia, Irlanda do Norte e Ilhas Faroe. Os dois primeiros se classificam e o terceiro caso esteja entre os cinco melhores da posição.]. Nunca ficará mais fácil do que isto.
O Craiovano – O que você espera da Copa do Mundo no Brasil? Tem algum palpite?
ER – Eu serei um torcedor do Brasil. E eu tenho também meu favorito europeu, que é a Bélgica. Pra mim, particularmente… É difícil fazer qualquer previsão, mas eu acho que a Espanha vai ser decepcionante. Na minha opinião, talvez seja a Copa de um atacante, de um centroavante, como nos tempos em que Ronaldo Fenômeno jogava.
O Craiovano – E sobre a organização do torneio? Acha que vai dar tudo certo?
ER – Acho que vocês deverão se sair bem com a organização. Eu sei que os brasileiros são um povo fantástico, e não duvido da capacidade que têm.